terça-feira, 25 de maio de 2010


Ela sentou-se num bar, pediu uma dose e tragou seu cigarro. Soltou a fumaça lentamente; observou desenhos, talvez um coração partido e pensou: " isso um dia acabará me matando." Olhou em sua volta, percebeu que chamava a atenção; o vestido preto, botas elegantes, perigosas; o batom vermelho, a pele clara; um contraste, como era sua vida. Sorriu dentes perfeitos, alinhados, cheios de desejos.
Pensou em como chegara ali, e em como sonhava ser professora de primário. Doce ilusão - pensou ela- a vida não era assim tão simples. Passou as mãos pelos cabelos, olhou de relance para a mesa ao lado e viu um homem fino, de belo porte que levantou um copo em sua direção. Ela balançou a cabeça suavemente num sinal afirmativo e ele se aproximou, puxou uma cadeira e ofereceu-se para pagar mais uma dose. Eles bebericaram durante certo tempo; ela levantou gentilmente e foi até o toalet, ajeitou a maquiagem, penteou o cabelo negro, e retocou o batom vermelho sangue. Olhou-se no espelho e sabia que seria uma noite daquelas. Desejou estar com sua filhinha tão pequena, inocente, que a uma hora dessas durmia feito um anjo, rezou para que a febre de sua menininha não voltasse e saiu batendo a porta.
Procurou o homem e o viu encostado em um carro preto, importado. Ele sorriu maliciosamente de volta e abriu a porta para ela.
- E lá vamos nós - disse ela silenciosamente, e, sentando no banco do carro puxou delicadamente o vestido para mostrar suas coxas leves, torneadas, graciosas. Sentiu a vibração no ar e sabia que logo tudo aquilo estaria acabado. Era uma tortura, mas era sua vida. A professorinha ingênua dentro de si enojava-se a cada noite, mas ela sabia que tinha alguém que dependia dela. Alguém que estava sozinha, em um berço esperando sua volta. Seus pais também precisavam de mais dinheiro, afinal o preço do remédio havia subido e o velho não podia ficar sem seus comprimidos para a pressão.
"Hoje não terei escapatória" e começou a roçar suas mãos na perna daquele homem desconhecido, que logo respirava excitadamente, parando o carro na beira da estrada.
" Nunca vi uma mulher tão sexy como você" e foi tirando a roupa, acariando rudemente seu corpo.
"Eu sei, e pode ter certeza que você não conhecerá mais nenhuma mulher como eu" e com tal agilidade se desfez de seu vestido e pulou em cima dele, fazendo urrar, delirar cada instante mais. Fechou os olhos e sabia que fazia um belo serviço, sou profissional pensava ela. Enchia-o de prazer, mas o único sentimento que tinha dentro de si, era o desprezo.
No momento em que o extase explodiria, ela suavemente puxou o canivete que estava encaixado em sua bota, e enfiou o mais fundo que conseguiu no peito daquele homem. Viu novamente naquele rosto a mistura de prazer e terror, e num piscar de olhos tudo estava feito. " Nada contra você meu querido, é apenas trabalho" sussurou ela secamente, empurrando aquele corpo, ainda suado, para fora do carro.
Pegou a carteira, a chave do carro e foi embora, rumo ao seu pequeno apartamento no centro da cidade. Girou a maçaneta, foi ao quarto de sua menininha e acariciou-lhe o rosto. Viu que dormia tranquilamente e se dirigiu ao banheiro, para um banho quente, para tentar tirar toda a sujeira de seu corpo e talvez tudo aquilo que se acumulava noite após noite em sua alma.

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